Criatividade: por onde começar?

Tudo começou quando eu ainda estava cursando minha graduação em Publicidade e Propaganda. Eu sentia angústia toda vez que um professor entrava em sala com uma pontinha de matéria – um texto, uma reflexão, um vídeo – e eu não conseguia compreender como integrar aquelas discussões a um conhecimento mais estruturado. Nem sempre havia um plano de ensino que era seguido e isso me deixava bastante perdida. Talvez por ter sido muito bem “conformada” pelo Ensino Médio, meu cérebro cartesiano clamava por alguma ordem lógica: podia ser histórica, podia ser pelo avanço das pesquisas em alguma área, poderia ser a escolha de assuntos atuais/instigantes, mas por favooooor, alguma base que pudesse me permitir agrupar essas informações em alguma ordem! Instintivamente, eu chamei isso de “informação fichário”, algo que me norteasse na aquisição de novos conhecimentos. A espinha dorsal. Quando, anos depois, me tornei professora, vejo que, conscientemente, procurei dar essa base em todos os cursos que fiz/criei/ministrei a partir daí. Gosto de apresentar linhas mais estruturadas para que, aí sim, cada pessoa, misture, crie novas associações, tire tudo do lugar, experimente, faça suas próprias conexões, crie sua própria linha mais autoral.  

Um pouco de caos é bom! Mas muito, assusta, afasta do foco. 

Para equilibrar a presença de estrutura, o passo seguinte foi investir na fluidez. Um ensino baseado em perguntas, que instigam, que colocam a pessoa para questionar, experimentar, errar e aprender muito me cativou. Tentei ao máximo aplicar isso nas disciplinas que dava. Aos poucos, comecei a receber convites para ministrar cursos e workshops e essa dobradinha se mantinha: base teórica estruturada e muito conhecimento prático.  

É sob esse ângulo que começo a contar a história desse blog sobre Criatividade, Redação e Outras Histórias. 

Este blog reúne conteúdos sobre criatividade, comunicação e escrita. Sobre criatividade, o doutorado me ensinou algo precioso. O conceito de criação, de imaginação é algo muito, muito antigo. Mas a criatividade como área de estudo da Psicologia é bastante recente. Data dos anos 50, quando em um discurso na APA (American Psychologist Association) o então presidente Gilford diferenciou os construtos de criatividade e inteligência. Até então, a criatividade era vista como uma faceta da inteligência. Mas como explicar que, para os mesmos inputs, ou seja, para a mesma alimentação de estímulos e informações, o cérebro humano conseguia produzir resultados tão diferenciados?

Nascia ali a base para toda a teoria que viria depois. Começamos a entender, assim, que Criatividade tem a ver com a emergência de algo que seja útil, original ou estatisticamente infrequente. Ou seja, são respostas a questionamentos, a problemas, a inquietações. Elas podem estar mais conscientes em algum nível – como encontrar uma forma diferente de fazer o mesmo chuchu no almoço ou como fazer o filho comer legumes, alcançando também níveis mais profundos, que é quando não sabemos a pergunta. Mas a danada tá lá. Eita, e como tá! Sabe quando dá aquele comichão, aquela angústia louca, até mesmo uma raiva motriz que você não sabe explicar? 

Na nossa sociedade, sob a ótica do consumo, essa inquietação tende a ser minimizada com a excessiva oferta de entretenimento. 

Mas existe outro caminho. Estes incômodos profundos também são perguntas não  respondidas e podem ser investigados, problematizados e compartilhados em comunidade.  Esse blog fala sobre assuntos dessa natureza.  

Como podemos usar nosso potencial criativo para solucionar os problemas que hoje nos desafiam e usar a imaginação para nos sentirmos bem, com nós mesmos e com o mundo que nos cerca?  

A vida é criatividade, pura energia criativa em movimento! Está em mim, está em você, nas propagandas, na arte, em tudo o que existe. Esse lampejo que vai além do racional e do consciente é capaz de orientar a vida de quem a experimenta em níveis que vão variar do contexto à intensidade da entrega. 

Permitir-se dar à luz a algo novo e inteiramente desconhecido – por mais que remeta a uma intrincada combinação de elementos que já existem. Reconhecer que há uma inteligência e criatividade maiores que nós mesmos é um grande passo de coragem. Afinal, também nós não somos um criativo amontoado de átomos de carbono, nitrogênio e outros elementos, finamente organizados e em movimento? 

Pense nisso… mas não muito. Não a ponto de deixar de se guiar pelas perguntas e pela perplexidade que o mundo te traz a cada instante. É de charada em charada que vamos expandindo nossa visão, nossa essência e a nossa criatividade. Seja bem-vindo, seja criativo.  Essa casa também é sua.  

Só assim iremos crescer e expandir nosso potencial criativo.

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