Considere o seguinte desafio: na década de 60, um grupo de supervisores buscava ideias para solucionar um problema na linha de montagem de uma empresa. Jornais eram utilizados para embalar peças automotivas que eram despachadas pelos Correios em caixas. Este trabalho era mecânico e realizado por um determinado número de funcionários. Observava-se, porém, um grande desperdício de tempo na execução da tarefa porque os embaladores ficavam lendo os jornais durante o trabalho e isso gerava um atraso no empacotamento. Como solucionar este problema?
Este foi um exemplo que utilizei em um workshop de criatividade para estimular a prática de brainstorm. Este case real foi proposto por Parnes em 1967 e continua atual até hoje, embora muitos de meus alunos sequer tenham contato com jornais atualmente. Fato é que, aos poucos, o grupo foi se soltando:
“Talvez colocar uma música para que eles mantenham foco em outra coisa que não os jornais.” Ou talvez colocar um supervisor para inspecionar o trabalho. Alguns propuseram ofertar café à vontade para que eles ficassem mais produtivos. Outro aluno pensou em aplicar uma multa para os que não cumprissem a meta. Uma aluna sugeriu dar bônus aos que cumprissem a missão. Sei que, aos poucos, o grupo foi sendo tomado por associações livres e criativas. O que o método de brainstorm sugere é essa “tempestade de ideias”, estimulada em ambiente seguro e com bastante liberdade. Isso proporciona o afastamento do julgamento, que é tão cruel para o florescimento de novas ideias. É sabido que o excesso de racionalidade quase sempre prejudica o livre trânsito das ideias criativas. Não cabe aqui avaliar quais soluções são éticas, fantasiosas, aplicáveis, exequíveis, caras ou inadequadas. A ideia é gerar, por meio da fluência, uma quantidade considerável de opções. Na continuidade, o grupo sugeriu contratar analfabetos (uma das soluções que foi apontada pelo pesquisador), profissionais estrangeiros (também contemplados na pesquisa), e trocar por jornais estrangeiros (idem). A solução encontrada pelo gestor foi contratar deficientes visuais. Já para nosso exercício, para além do “certo” ou “errado”, todas as soluções foram muito bem-vindas. Eu, por exemplo, ficaria sensível ao interesse deles pela leitura, proporia oficinas de texto, daria livros e jornais para que fossem levados para casa… talvez os trocaria de sessão, daria brindes para metas alcançadas na redução do tempo, mas jamais puniria alguém que estivesse com vontade de ler, nem que seja por distração. É que a criatividade, que de alguma forma, sempre passa por nossos filtros pessoais. E você? Como costuma utilizar o brainstorm para criar soluções diversificadas para os desafios do seu dia? Como resolveria o problema do jornal?

Consultora na área de criatividade, professora, escritora, palestrante e redatora publicitária. Apreciadora de histórias.