Provavelmente você já ouviu ou vai se identificar com esse relato: “Eu até escrevo, mas depois eu rasgo tudo, nunca acho que está bom o bastante.” Eu já passei por isso várias vezes quando criança, algumas vezes como adulta e infinitas vezes quando adolescente. Eu experimentava aquele ímpeto gostoso de colocar as minhas ideias no papel quando elas vinham, aqueles jatos preciosos de criatividade que desaguam em poesias, poemas, textos ou até mesmo desenhos. Mas depois de algumas idas às livrarias e bibliotecas, leitora voraz que sou, acaba comparando minhas poesias com os poemas de Cecília Meirelles, Mário Quintana e então, na mesma hora ou depois… rasgava tudo.
Foi com o tempo e algum estudo que fui parando de fazer isso. Fui aprendendo várias coisas sobre o processo criativo. A primeira coisa que compreendi é que nossa mente nem sempre usa critérios justos para avaliar nossa produção. Ou seja, já que a ideia aqui é comparar (coisa que no processo criativo nunca dá muito certo), teríamos que ter por base os textos de Cecília e Mario Quintana quando estavam… começando! Na infância, na escola, os primeiros rascunhos. Os poemas não publicados. O material dos cadernos antigos, das agendas… Mas não… comparamo-nos com escritores e obras consagradas no auge de suas carreiras, quando já tinham trilhado um longo percurso.
Quando escrevemos, pintamos, damos vida ao nosso Processo Criativo, pode ser que sonhemos com livros publicados, uma exposição, a visibilidade saudável de nossa obra. Mas para isso, precisaremos de uma etapa importante que é mergulhar no processo. Para fazer algo bom, primeiro é preciso correr o risco de fazer algo mediano ou até mesmo ruim. A prática conduz ao aprimoramento. Ao fazer algo, a princípio como completo amador, geralmente, somos conduzidos a um processo com três fases: a) vamos descobrindo formas de melhorar, b) resgatamos nosso gosto por estudar, mergulhando em novos aprendizados e o mais gostoso c) começamos a encontrar pessoas que nos dão dicas, abrem portas e vamos sendo conduzidos com o mínimo de esforço. Essa combinação preciosa faz com que nos sintamos VIVOS.
E quais são os percalços que esse caminho traz? Precisaremos da coragem em nos arriscar e da constância para continuar. Criar envolve nos expormos a julgamentos, internos e externos. Portanto, é preciso ter a autoestima bem fortalecida e ouvidos moucos às opiniões alheias que, muitas vezes são maldosas. Pessoas extremamente analíticas, perfeccionistas e internamente frustradas podem fazer comentários altamente destrutivos para quem está começando.
Seguem então três dicas que podem ajudar nesse começo que é o mergulho no processo criativo: O difícil não é criar. O difícil é sentar-se para criar. Nossa mente tende a nos poupar de todo o risco de frustração. “Ah, amanhã eu começo”. “Quando eu entrar de férias” (me aposentar, terminar o TCC, reformar o quarto, aqui cabem muitos argumentos). Escolha um horário, um dia na semana e comece com o que você tem.
- Fôlego: Superado o desafio de começar, você vai precisar de fôlego. De repente, você deu o start em um livro, por exemplo. Começou bem, empolgado, escreveu 4 horas de conteúdo na primeira semana. Mas os trabalhos não nascem prontos. Uma etapa se abre a outras e você vai precisar do ritmo do maratonista. Escrever sempre, entender que vão existir etapas de reescrita, desertos em que nada parece estar bom, bloqueios criativos…
- Conte com os seus apoiadores. Sabe aquelas pessoas que simplesmente amam tudo o que você faz? Pode ser que elas nem entendam da qualidade técnica, mas são nossos fãs incondicionais? Vale ser a mãe, a vó, um amigo querido, a tia, um colega do trabalho, amigos de infância. Você vai precisar muito deles nesse momento! São eles que vão te lembrar que você está sendo ousado e corajoso em tentar algo novo. Tenha-os sempre por perto ao alcance de uma mensagem, de um telefonema.
- Esteja perto de outros criativos. Pode ser em uma comunidade de WhatsApp, pode ser para tomar um café e estudar junto, pode ser em programas de estudo. Estar junto de pessoas que estão se arriscando, criando e experimentando produzir conteúdo, escrever, criar, experimentar novas formatos de trabalho e de vida pode dar um gás pra gente seguir em frente.
Compartilhe um pouco do seu processo. Não mostre só os produtos prontos, esteticamente acabados, revisados e perfeitos. Não se trata de também de se abrir em excesso e contar todas as etapas. Mas deixe transparecer um pouco da alegria, da angústia, dos insights, das reviravoltas, das sincronicidades. Isso pode animar quem está começando, precisando continuar ou bloqueado por algum motivo.
Faz sentido pra você? Me conte aqui. Quero te ouvir!
Imagem: Freepik
Consultora na área de criatividade, professora, escritora, palestrante e redatora publicitária. Apreciadora de histórias.