Por vezes me esqueço que, ao ser mãe de um adolescente, eu passaria novamente pelo ensino fundamental e médio. Que eu veria novamente as Revoluções Industrial e Francesa, e que me lembraria das causas da Primeira Guerra Mundial.
Que me surpreenderia ao ver Redação Publicitária no currículo do sexto ano e carta aberta no nono. E que ainda haveria muita memorização em todo esse processo.
Em contrapartida, vejo a importância da figura do professor mediando o processo. Vejo meu filho comentar os pontos de vista do professor de história, que me conta ser agnóstico desde os 15.
Me deleito com essa mistura entre a disciplina, os aspectos da vida pessoal dos docentes e me lembro de como eu fazia exatamente esse mesmo ritual de repetir para minha mãe parte desses conteúdos que me impactaram. E de como eu dava valor à fala desses mestres que, até hoje, continuam sendo muito importantes na minha jornada. Ainda sei os nomes dos meus professores das séries iniciais à pós-graduação – arrisco-me a dizer que seriam poucos de quem eu me esqueceria. Figuras humanas me impactam sobremaneira.
O humano continua me fascinando. No entanto, vale ressaltar que depois de um doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, anos em sala de aula com jovens e adolescentes e conhecendo modelos mais livres de aprendizado (como a Cidade Escola Ayni), a escolarização me incomoda muito.
Chamo escolarização esse processo formal de aprendizado centrado em um professor – e seu saber dominante, professando ideias a uma audiência. Pergunte a seus filhos e crianças em geral se eles gostam desse formato e você não surpreenderá quando disserem que a parte que mais gostam numa escola é o recreio.
Repetimos para nós mesmos que a escola é importante para a socialização e para o aprendizado e de fato continua sendo.
No entanto, sem que ela se assemelhe a um organismo vivo, cooperativo, centrado em projetos e aberta à criatividade e à curiosidade, permaneceremos muito anestesiados. Mente desconectada do corpo. Me diga o que fazer e eu farei. Te darei notas, faltas e menções. E ao final jogaremos o capelo para cima e diremos aos jovens assustados “Fizemos nossa parte. Agora performem no mercado de trabalho.” Claro que esse script muda de área para área, de profissão para profissão, de contexto para contexto.
Continuo acreditando e vendo acontecer, por meio de meus alunos, que o estudo com afinco e oportunidades agarradas com gosto e muita vontade, promoveram mudanças econômicas, culturais e levaram estes estudantes a países, vagas e lugares nunca antes imaginados por eles mesmos. Já assisti, emocionada, a conquista do primeiro diploma de uma família, do estudante que voltou a estudar o curso dos sonhos depois de uma longa jornada. Nem sempre isso é a regra. Por vezes, figura como exceção.
Gosto nos meus contextos escolares, cada vez mais, de promover a liberdade sempre que possível. Ontem um estudante que me surpreendeu muito esse semestre, em uma disciplina de Branding, quis fazer o trabalho de elaboração de marca não sobre um negócio e sim sobre a própria mãe. Clarice. Escolheu as cores, o posicionamento, logotipo, tom de voz, o mapa de significados, os arquétipos e até o slogan. Um trabalho muito autoral em que foi posto fundamento e sentimento. Que me encheu de orgulho.
Esse mesmo aluno, que ainda tinha um trabalho para me entregar, reclamou “Não aguento mais fazer trabalhos.” E se espantou quando eu ofereci a chance de ele fazer outro trabalho autoral, no lugar do exercício formal. O que se faz com essa tal liberdade? Uns navegam bem, outros se assustam. Percebem que podem se abrir e contar que usam muito as IAs para seus projetos criativos. E quando eu os estimulo, vão ampliando esses limites. Percebem-se maiores que o exercício em si, e que podem se expressar, entendendo também que, em alguns casos, o comando será mantido para que se exercite algum fundamento pedagógico.
Quando a criatividade sai pela porta, o tédio entra pela janela. E quando a liberdade entra pelo portão principal, a chave do conhecimento é entregue de par em par.
Que possamos refletir sobre o que nos faz aprender e a quem ainda pedimos permissão para sermos livres. Nossa missão como pais e educadores é trocar a memorização pelo ensino criativo. Talvez essa sim, seja a única lição que não podemos esquecer.
Que me surpreenderia ao ver Redação Publicitária no currículo do sexto ano e carta aberta no nono. E que ainda haveria muita memorização em todo esse processo.
Em contrapartida, vejo a importância da figura do professor mediando o processo. Vejo meu filho comentar os pontos de vista do professor de história, que me conta ser agnóstico desde os 15.
Me deleito com essa mistura entre a disciplina, os aspectos da vida pessoal dos docentes e me lembro de como eu fazia exatamente esse mesmo ritual de repetir para minha mãe parte desses conteúdos que me impactaram. E de como eu dava valor à fala desses mestres que, até hoje, continuam sendo muito importantes na minha jornada. Ainda sei os nomes dos meus professores das séries iniciais à pós-graduação – arrisco-me a dizer que seriam poucos de quem eu me esqueceria. Figuras humanas me impactam sobremaneira.
O humano continua me fascinando. No entanto, vale ressaltar que depois de um doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, anos em sala de aula com jovens e adolescentes e conhecendo modelos mais livres de aprendizado (como a Cidade Escola Ayni), a escolarização me incomoda muito.
Chamo escolarização esse processo formal de aprendizado centrado em um professor – e seu saber dominante, professando ideias a uma audiência. Pergunte a seus filhos e crianças em geral se eles gostam desse formato e você não surpreenderá quando disserem que a parte que mais gostam numa escola é o recreio.
Repetimos para nós mesmos que a escola é importante para a socialização e para o aprendizado e de fato continua sendo.
No entanto, sem que ela se assemelhe a um organismo vivo, cooperativo, centrado em projetos e aberta à criatividade e à curiosidade, permaneceremos muito anestesiados. Mente desconectada do corpo. Me diga o que fazer e eu farei. Te darei notas, faltas e menções. E ao final jogaremos o capelo para cima e diremos aos jovens assustados “Fizemos nossa parte. Agora performem no mercado de trabalho.” Claro que esse script muda de área para área, de profissão para profissão, de contexto para contexto.
Continuo acreditando e vendo acontecer, por meio de meus alunos, que o estudo com afinco e oportunidades agarradas com gosto e muita vontade, promoveram mudanças econômicas, culturais e levaram estes estudantes a países, vagas e lugares nunca antes imaginados por eles mesmos. Já assisti, emocionada, a conquista do primeiro diploma de uma família, do estudante que voltou a estudar o curso dos sonhos depois de uma longa jornada. Nem sempre isso é a regra. Por vezes, figura como exceção.
Gosto nos meus contextos escolares, cada vez mais, de promover a liberdade sempre que possível. Ontem um estudante que me surpreendeu muito esse semestre, em uma disciplina de Branding, quis fazer o trabalho de elaboração de marca não sobre um negócio e sim sobre a própria mãe. Clarice. Escolheu as cores, o posicionamento, logotipo, tom de voz, o mapa de significados, os arquétipos e até o slogan. Um trabalho muito autoral em que foi posto fundamento e sentimento. Que me encheu de orgulho.
Esse mesmo aluno, que ainda tinha um trabalho para me entregar, reclamou “Não aguento mais fazer trabalhos.” E se espantou quando eu ofereci a chance de ele fazer outro trabalho autoral, no lugar do exercício formal. O que se faz com essa tal liberdade? Uns navegam bem, outros se assustam. Percebem que podem se abrir e contar que usam muito as IAs para seus projetos criativos. E quando eu os estimulo, vão ampliando esses limites. Percebem-se maiores que o exercício em si, e que podem se expressar, entendendo também que, em alguns casos, o comando será mantido para que se exercite algum fundamento pedagógico.
Quando a criatividade sai pela porta, o tédio entra pela janela. E quando a liberdade entra pelo portão principal, a chave do conhecimento é entregue de par em par.
Que possamos refletir sobre o que nos faz aprender e a quem ainda pedimos permissão para sermos livres. Nossa missão como pais e educadores é trocar a memorização pelo ensino criativo. Talvez essa sim, seja a única lição que não podemos esquecer.
Consultora na área de criatividade, professora, escritora, palestrante e redatora publicitária. Apreciadora de histórias.