Cozinho porque gosto. Porque minha geladeira e minhas panelas são um grande laboratório criativo. Depois de amanhã vou viajar e o almoço de hoje foi uma combinação do que já tinha disponível. E fui quando eu vi duas bananas marmelo dando sopa. Aquelas bem grandes, que eu comprei para um bolo – porque eram as que tinham no mercado no dia – e que não serviram. Olhei para as duas. Lindas. Maduras. Sem muito pensar, fatiei tudo e coloquei no forno com um pouco de mel. Com uma porção de legumes, um pouco de carne e um arroz integral cozido somente na água (outra descoberta linda) lá estava meu almoço pronto. Cozinhar criativamente tem a ver com a descoberta de paladares e texturas, de cores e aromas, de temperos novos. Eu adoro descobrir algo que intuitivamente não sabia. Tipo, fazer das bananas assadas uma alternativa de almoço. É o não saber que sei. É o saber na hora. Enquanto faz. Enquanto experimenta. Ontem, fizemos um filé mignon suíno assado e passamos, em família, pelo mesmo processo. Meu marido perguntou “Se eu acrescentar uma laranja aos temperos funciona?” Bem, saber nós sabíamos. Porco e laranja geralmente combina. Mas ali, os dois na cozinha, fazendo planos pro ano que está pra chegar, sentindo o cheiro da carne já fritando, a cebola escurecendo num molho grosso, os sentidos comandaram: “experimente”. Experimentar é trazer os sentidos pro jogo. É dizer: “Chega de assistir vídeos de comida, vem fazer. Não importa que se sujem as vasilhas, que se gaste o tempo, afinal, já dizia aquela caneca que encontramos na viagem “Enquanto houver vida, haverá louça.” É sobre sair transformado da experiência. Mais uma vez repito: é descobrir que sabia, sem saber… só experimentando. Se você quer uma vida mais criativa, tem quem perder o medo de mergulhar. De enfiar a mão na massa. Tem que arrumar tempo pra cozinhar, ou pra dançar, costurar, viajar, sei lá o que ressoa aí no seu lado. Tem que se gastar. Tem que se gostar. Tem que se gozar. Vida criativa é isso, é assim, é feita de verdades. Amarre o avental na cintura e afrouxe os nós que te prendem. E se você estiver mais perto dos 50 do que dos 20, mais um motivo ainda pra cozinhar. Como diria minha querida Pitty Braga – lá vou citá-la de novo “Que sua comida seja teu alimento”. Se queremos menopausar bem, precisamos de pausas: e de alimento pro corpo e para a alma. Cozinho pra descobrir o que não sei que sei e quando formulo pela terceira vez essa verdade que anda tão ativa em mim, encontro um lugar dentro do meu ser para eu nutrir e para me nutrir. Que a criatividade faça morada na sua cozinha e no seu ser, seja em 2025, 35 ou 50. E se a racionalidade insistir que o I food é mais barato ou mais prático… dê uma banana pra ela! Orgânica, assada, deliciosa. Bom apetite.
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Consultora na área de criatividade, professora, escritora, palestrante e redatora publicitária. Apreciadora de histórias.