Botas croco, inverno e criatividade para aquecer a alma.

Fui a uma loja hoje comprar botas pretas ou marrons para o inverno que “chegou chegando” em Brasília. Experimentei várias, não gostei de nenhuma em especial com exceção de um par de botas douradas que foram trazidas pela vendedora que viu meu perfil criativo se esgueirando entre os calçados tradicionais.

Vim para casa para escrever um texto sobre as ditas botas douradas e me deparo agora com essas botas croco. O espírito criativo pira: “São essas! São essas!” Não importa quanto custem, lado direito do cérebro não paga nem nunca pagou boletos. Só quer desfilar pela passarela da vida como se moda fosse item da cesta básica e como se as boas ideias dependessem de um calçado à altura.

Lado esquerdo, mais ponderado, relembra: E aquela sua vibe de “menos é mais”? Que curte os conteúdos da marca Patagônia? Que tem garimpado brechós e que se incomoda verdadeiramente com o excesso de consumo e a produção de lixo no planeta?”

Mais madura, entendo. Nada disso é motivo de conflito. Existem muitas versões de nós mesmos dentro de um único ser humano. Somos permeados de crenças, de desejos, de vontades.

Mas como nosso assunto aqui é Criatividade, acompanhe comigo: a criança pensante, criativa, artista que há em nós, nem sempre (na verdade, quase nunca) é dada a racionalizações.

Cabe a nós equalizar as vontades e os impulsos aos orçamentos, aos momentos e às necessidades que identificamos. Sabendo que, às vezes, faz muito bem ousar. Um sapato diferente, um roteiro de viagem inesperado, uma festa que apareceu em um convite de última hora e muda os rumos de uma vida (aliás, foi assim que meus pais se conheceram. Sou fruto, quatro anos depois, de um encontro que aconteceu inesperadamente em um sábado qualquer.)


Levar tudo na ponta do lápis nem sempre permite nosso lado mais leve, mais artístico e mais espirituoso de se manifestar. Você se lembra de quantas sandálias amarelas, bolsas de plumas e outras extravagâncias maravilhosas e cheias de glitter pediu aos adultos quando era pequena – ou pequeno?

E que respostas ouviu?

Não defendo que adultos devam ceder a birras ou fazer todas as vontades dos filhos, muito pelo contrário. Acontece que, muitas vezes, o desejo de disciplinar, de impor limites ou mesmo a pressa da vida corrida, impede a sutileza de enxergar na criança um legítimo desejo de expressão.

No meu caso, não sei se vou comprar ou não as famosas botas… mas vou pensar com muito carinho. Vou ouvir o que minha criança artista me sussurrou. Ela e a adulta sensível e responsável que me tornei, que se entendam.

Fato é: quando a criatividade anda de passos dados com a intuição, a jornada fica mais interessante.

PS: na imagem, um detalhe da bota. E esse texto não é (só) sobre elas.

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